SONHANDO COM PANDORA...
Uma semana de caos no planeta e vemos uma seqüência de imagens que tentam expressar a dor que se espalha como água de enchente dentro e fora de nós...não dá para imaginar o que a destruição de um país pela manifestação da natureza, deixa como marcas e é mais um exemplo de modelos de cidades modernas que não sobrevivem a uma catástrofe natural.
Mesmo que durante toda a história das civilizações encontremos múltiplos exemplos de aniquilação das paisagens, cidades, culturas e milhões de vidas, a pergunta que se instala é se continuaremos a reconstruir com os mesmos meios que já demonstraram total incapacidade para sobreviver face as forças da natureza, para onde vai a humanidade?
A Arquitetura e o Urbanismo como profissões responsáveis pela criação, construção e do desenvolvimento de modelos de cidades, pode se perguntar qual ou quais caminhos deveriam ser pensados diante dos problemas que uma catástrofe natural pode causar em espaços urbanos e naturais. As imagens são gritantes de toneladas de concreto e ferros retorcidos onde edifícios de todos os tipos aparecem como pilhas de pedras perdidas, sem sentido, sem todos os elementos que fazem da arquitetura uma arte e do urbanismo uma necessidade.
Se cidades nascem sem planejamento, podemos dizer que sofrem nestes momentos o caos provocado pela impossibilidade de manobras de viaturas de socorro, de áreas para abrigar pessoas, de áreas para enterrar os mortos...mas se são planejadas, onde estão as áreas específicas para abrigar milhares de pessoas? Onde estão os projetos de arquitetura de sobrevivência? Onde estão os planos diretores para dar um direcionamento inicial para que as cidades possam se reerguer???
Este é um assunto tabu entre arquitetos e engenheiros, afinal somos os especialistas em construir o belo, de forma mais eficiente, mais rápida, será mesmo? Porque então não podemos pensar também em produzir arquiteturas para abrigar sobreviventes??? Cabana não é casa e muitas vezes são elas que oferecem o mínimo de conforto aos desesperados e por quanto tempo? Cada caso é um caso, mas normalmente o tempo é longo. Não gostamos do feio, da poeira, de paisagens desoladas, não gostamos de ver pessoas morrerem de sede porque simplesmente não existem um sistema de hidrantes, não gostamos de ver pessoas morrendo de fome e onde estão as arvores frutíferas nas ruas, onde estão os jardins públicos feitos com plantas comestíveis, não gostamos da feiúra e da miséria, mas estamos sendo atolados pelas imagens dela, e o que faremos?
Qual o futuro de nossas cidades se persistirmos em ensinar, planejar e construir aquilo que já não deu certo? Será que teremos que passar por piores terremotos, tsunamis, enchentes, queimadas para entender que nossa forma de viver está errada? Até quando construiremos edifícios símbolos do poder, da arrogância, da ignorância e de tecnologias não pensadas para suportar as catástrofes naturais? Apenas o Japão investe nessas coisas, mas por razões óbvias devido aos riscos que correm de terremotos.
Fico imaginando como seriam cidades sem riscos...sustentáveis ecologicamente, socialmente e culturalmente...dá para imaginar edifícios feitos com materiais tão leves como ossos humanos e tão resistentes como aço, com formas não ameaçadoras e sim acolhedoras e seguras, com parques e jardins repletos de cores, sabores e vida, com transporte sem ruído, sem poluição e sem riscos...
Parece conto de fadas ou ficção científica, mas acho que está na hora de tentarmos de verdade, seriamente, reformular nossos paradigmas e nossas “verdades arquitetônicas e urbanísticas”. Ainda dá tempo de fazermos experiências com novos materiais ecologicamente corretos e de preço mais justo e accessível a todos, de formas, cores e texturas inusitadas mas que atendam ao grande déficit de moradia que temos no mundo, ainda hoje um dos maiores problemas que enfrentamos.
Pensar o novo não é negar o velho e nem todas as coisas positivas que fazem parte da historia da humanidade, porém tentar o novo também faz parte do processo de crescimento e aperfeiçoamento de nossa cultura e porque não questionar para andar para frente? Sem curiosidade, sem perguntas como viver no Século XXI?
Entre o aquecimento global e a morte por catástrofes, não nos resta escolha: temos que encarar o fato de que precisamos pensar e agir muito mais rápidos do que antes...milhões dependem de respostas, paises e cidades mais humanas, sustentáveis, cidades viáveis, cidades coerentes, cidades equilibradas com a natureza, com a sociedade, com a vida, só assim a vida humana, tal como a conhecemos se perpetuará! Sem ser alarmista mas apenas coerente com o que estamos vendo, não adianta colocar a peneira na frente do sol ( que aliás anda mais escaldante do que nunca) mas o fato é que nosso planeta está mudando e muito rápido e precisamos trabalhar mais para encontrar novos caminhos de sobrevivência ou olhar o passado com uma perspectiva nova...
As universidades tem uma responsabilidade enorme quanto ao estímulo as pesquisas, divulgação dos resultados, mas a aplicabilidade das mesmas não depende de cientistas, professores e técnicos e sim da gestão pública em todas as instâncias, seja municipal, estadual ou federal no caso brasileiro. E aí que as coisas se complicam, porque gestão está diretamente ligada à política (as) que muitas vezes não correspondem aos interesses da população e é o que vemos hoje no Haiti, sofre as consequencias de anos de má gestão pública e de políticas equivocadas, mas existem outros milhões de exemplos espalhados pelo mundo.
Assim a segunda pergunta que nunca tem resposta é como mudar a consciência dos gestores, dos poderes estabelecidos, quanto à necessidade de se trabalhar pela população, com a população? Enquanto não mudarmos o gestor não se muda a forma de conduzir as soluções para os nossos problemas...qual o melhor sistema de gestão? de política? de economia?
Nossa sobrevivência planetária depende muito mais de homens e de mulheres conscientes, corajosos e capazes de agir localmente e globalmente. Enquanto ficarmos apenas com diretrizes e boas intenções mas sem aplicá-las, nosso destino é um só: o fim. Temos que pensar nisso e lutar pelo nosso direito a uma vida digna neste planeta e para todos! agora só precisamos pensar em como? Sugiro desligar um pouco a TV, esquecer os big-brothers e se abrir para olhar o céu, a terra, o sol, para as pessoas... pegar um papel e começar a escrever, desenhar...tentem, a Mãe-terra agradece e eu vou continuar sonhando com Pandora...
Luz e paz
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