PAISAGENS COMO MATÉRIA-PRIMA: POR UM तुरिस्मो SUSTENTÁVEL
Arquiteta Márcia de Camargo
Janeiro de 2009
A exploração das paisagens como um espaço que nos conduz pouco a pouco ao sentido do lugar, por intermédio das formas de conhecê-las, sua tipologia, evocações, usos e significados, considera que a relação entre homem-natureza é traduzida em dimensões concretas e interpretações sucessivas, refletidas nas transformações de atitudes e condutas perante o meio ambiente.
Consciente dos conflitos entre desenvolvimento e necessidade de preservação das belezas cênicas, como controlar o destino de um fenômeno tão complexo como as paisagens? A questão se coloca é de que maneira elas deverão ser recriadas. Como será a qualidade dos resultados das alterações que o desenvolvimento econômico imporá no século XXI? Que tipo de manejo sustentável que poderia integrar a estética, a conservação da biodiversidade e o turismo? A preservação das paisagens cênicas como retratos vivos que contam a “história do lugar” (TUAN, 1980) sua diversidade ecológica e seus atributos naturais devem ser objetos de ações controladas de manejo sustentável, buscando manter a sua integridade ambiental, dentro de um cenário atual e futuro.
Como a discussão sobre manejo sustentável nos remete a buscar a compreensão sobre diversidade ecológica, o uso de dados ecológicos é necessário para apreendermos a realidade física das paisagens, compreendermos como sua dinâmica ecológica se manifesta e controla os ecossistemas que garantem a sua sobrevivência. Pesquisas sobre paisagens cênicas, através de uma análise perceptiva e ecológica justificam-se para que possam servir de parâmetro nos processos decisórios de implementação de políticas públicas e projetos com uso de caráter científico, recreativo e educativo, visando o seu uso para um turismo sustentável.
Com a criação da última cidade planejada no século XX, a capital Palmas ( 20 de maio de 1989) surge no momento em que a necessidade de desenvolvimento desta parte do país se faz presente. Localizada no coração do Brasil e centro geográfico do Estado do Tocantins, na área de Canelas, entre a Serra do Lajeado e o lago formado pelo represamento do Rio Tocantins com a construção da Usina Hidroelétrica Luis Eduardo Magalhães. Localizada do lado direito do rio Tocantins, esta área foi escolhida para a construção da última capital planejada do país. Nessa região, entre os ribeirões Água Fria, ao norte, e Taquaruçú -Grande ao sul, foi desenhada em uma área urbana com 11.085 ha com referências marcantes de paisagens cênicas.
Palmas está contida entre a Serra do Lajeado e o reservatório formado pela usina Luis Eduardo Magalhães, definindo assim o seu eixo de desenvolvimento Norte-Sul e Leste-Oeste, integrando a estrutura urbana com as paisagens naturais, tendo a capacidade para abrigar cerca de 1,2 milhões de habitantes. Outras duas áreas, ao norte de Água Fria, com 4.625 ha e ao sul do ribeirão Taquaruçú, com 4.869 ha, foram reservadas para a futura expansão da cidade, fazendo com que o município tenha potencial para conter uma população de 2 milhões de habitantes. Para definir e organizar a ocupação dessas áreas foi desenvolvido um plano urbanístico da cidade, que permite ter uma idéia genérica de como ela será no futuro (SEGAWA, 1991).
De acordo com os autores responsáveis pelo projeto da nova capital, os arquitetos Luiz Fernando Cruvinel e Walfredo Antunes — encarregados pelo desenho e pelo planejamento urbano, respectivamente — procurou-se estabelecer um diálogo com o projeto urbanístico de Brasília e, em menor intensidade, com o de Goiânia. Segundo eles, Palmas foi concebida como um exemplo de aplicação dos princípios funcionalistas do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna - CIAM, onde seria imprescindível uma relação harmônica entre a natureza do cerrado e os volumes urbanos. Ainda, segundo seus autores, o traçado urbano proposto respeita as características do clima e da topografia, sendo mais adaptativo ao relevo que impositivo. Em suas palavras, “o projeto foi desenvolvido ao sabor das forças de produção da dinâmica da cidade” (BOTELHO VASCONCELOS, 2006).
A realidade de Palmas, hoje com 20 anos, difere e muito dos conceitos norteadores do seu Plano Urbanístico original, pois sofreu ao longo dos anos um processo migratório muito forte. As invasões se fazem presentes ao norte e, principalmente, na região sul, estendendo a malha urbanizada à uma distância de 32 km do ponto central da cidade - o Palácio Araguaia, referência política do estado do Tocantins. As paisagens da Serra do Lajeado e das margens do lago sofreram as conseqüências das invasões e da especulação imobiliária, que mantém o controle de parte da região central, criando imensos “vazios urbanos” que dão uma falsa sensação de áreas verdes intocadas. A degradação do meio ambiente é observada claramente pela presença de desmatamento, erosões e de queimadas nas épocas de seca.
Um planejamento paisagístico que busque o manejo sustentável das áreas verdes de Palmas, justifica-se, pois a cidade é conhecida como “Capital Ecológica” e o que vemos na realidade é uma cidade onde o verde é evidente e presente, mas não se tem acesso aos atrativos naturais por falta de áreas adequadas como parques ecológicos com trilhas implantadas, praças urbanizadas, calçadas com sombra para o pedestre, ciclovias verdes. Assim como não existe uma infraestrutura turística suficiente para atender a demanda de lazer, cultura e ecoturismo.
Estabelecer novos rumos para a preservação da biodiversidade, conservação da integridade paisagística, garantir a preservação do patrimônio natural, é uma meta a ser buscada para o desenvolvimento sustentável do município de Palmas e é um dever e um direito de todo cidadão palmense ter sua cidade limpa de mato, com calçadas, jardins e toda a infraestrutura necessária para termos uma cidade com qualidade de vida e com conforto ambiental, digna se ser chamada “Capital Ecológica”, pois sabe que é cuidando de seu patrimônio natural é que poderá se chamada de capital sustentável.
Ao poder público cabe-lhe a obrigação de realizar as obras necessárias para que tal objetivo realmente aconteça। Temos técnicos e profissionais de todas as áreas afins e podemos fazer um trabalho de altíssima qualidade, assim, precisamos é de vontade política para que o sonho de uma capital verde aconteça, para o bem de todos os cidadãos e visitantes e principalmente para que Palmas torne-se finalmente o sonho concretizado pelo qual foi concebida. Um lugar de muito verde e paisagens cênicas com locais paradisíacos para relaxar, contemplar e se divertir, além de morar, trabalhar e de viver com dignidade.
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